Terapia Transpessoal na Relação de Casal
A Terapia Transpessoal aplicada à Relação de Casal é um processo de acompanhamento do casal, visando uma melhor compreensão da relação que os une, na procura de um maior entendimento do outro e de si mesmo.
Esta terapia proporciona um lugar neutro e imparcial, com base na Escuta Consciente, onde impera o respeito, a aceitação e o não julgamento. Pretende observar e trabalhar temas comuns aos dois, abraçando as diferentes perspetivas e facilitando um diálogo frutífero e focado nas emoções.
“Duas pessoas só estão unidas quando continuam a ser dois.” Rilke
A Terapia Transpessoal na Relação de Casal, segundo o olhar de José María Doria (in Rosas e Espinhos no Amor de Casal)
O que é a relação de casal? A relação de casal, em si mesma, é um caminho de espelhos e autoconsciência. Um caminho que não oferece propriamente uma vida simples e sem problemas, mas sim, uma corrida de luzes e sombras que pode resultar tão complicada como alegre. Trata-se de um caminhar onde, após os primeiros tempos repletos de estímulos e promessas, aparecem o declínio e as desilusões; contudo, atualizam-se, também, potenciais e vivenciam-se rendições que abrem avenidas da alma. Paradoxalmente, para um certo número de pessoas, é precisamente o facto de viverem sós durante um determinado tempo, que pode tornar-se a sua forma particular de treinar aspetos que, mais tarde, farão muita falta na futura convivência em casal. O que parece claro é que superar os temores soterrados, que se escondem no isolamento e criar vínculos de relação sincera, garante rentabilidade cardíaca. A relação profunda com o “outro” e o observar das suas necessidades mais profundas é a porta para transcender o natural egocentrismo que nos vem “de fábrica”. Sem dúvida, conforme nos abrimos quotidianamente a outra pessoa, vemo-nos obrigados a desenvolver aspetos, tais como, a auto-observação, a regulação emocional, a atitude cooperativa e a compaixão profunda. A relação de casal exige aos seus membros uma infinita paciência, assim como, a justa devoção e uma grande entrega. Quanto maior intimidade, maior nudez e, por isso, maior exigência na harmonização da música que soa entre ambos. Se há desatenção, as respostas desafinadas não tardarão a chegar e, com elas, a iminente necessidade de trabalhar as desavenças.
“Isso de amar sem esperar nada em troca é bonito nos contos de
fadas.
Mas na vida real, um amor maduro exige um delicado equilíbrio entre dar e receber, pois tudo
aquilo que não é mútuo é tóxico.”
Bert Hellinger
O que posso descobrir sobre mim através do outro? É certo que muitas condutas que nos “irritam” no nosso parceiro reflectem, como espelho, as nossas próprias sombras, não suficientemente observadas. Trata-se de uma realidade que, para muitas pessoas, converte a relação num caminho de crescimento, no qual todos os conflitos que surgem, assinalam, de alguma forma, uma área sobre a qual é solicitado um olhar consciente. Deste ponto de vista, a relação de casal já não é somente uma forma de canalizar o nosso desejo de partilhar a vida com quem elegemos, mas também de nos autoconhecermos de modo acelerado.
“Tudo o que nos irrita nos outros pode levar-nos a um melhor entendimento de nós mesmos.” Carl Jung
A “Relação Perfeita” existe? O que significa o casal perfeito? Será aquele no qual os seus membros eram razoavelmente felizes antes de se tornarem casal? A pessoa que se considera feliz em casal, o mais provável é que se considere feliz também sem estar em casal, e quem, pelo contrário, se sente infeliz em casal, é também muito provável que continue a ser infeliz no caso de viver separado. Falamos num casal, numa comunidade, numa humanidade. Os fatores comunitários contribuem, sem dúvida, para o bem-estar e vice-versa, mas nunca substituirão a responsabilidade própria de gerir a nossa paz interna. Talvez a famosa relação de otimização seja a que vivemos com o nosso corpo-mente-espírito para, mais tarde, construir sobre ela as nossas relações com as outras pessoas. A partir desta compreensão, tudo o que se desenvolve no chamado “exterior”, será uma holoequação da nossa consciência e, por isso, será movido por outro nível de inteligência.
A perfeição, na sua forma simbólica, representa a morte, o fim, o culminar de algo… Num relacionamento, seja ele de que ordem for, procura-se a dinâmica, a parceria, a cumplicidade e, desde aí, a transformação, sem um fim previsível, apena uma continuidade; por isso, não existem “relações perfeitas”.
“Há um segredo para viver feliz com a pessoa amada: não pretender mudá-la.” Simone de Beauvoir
A relação de casal (distorcida) nos dias de hoje… Parece certo dizer-se que atravessamos uma crise de profundidade. A nossa sociedade presta culto aos centros comerciais, ao mesmo tempo que se sente fascinada com o mundo das formas e das aparências. Entretemo-nos com estímulos e, perante a possibilidade de chegada da dor, enredamo-nos em relações que anestesiam. Cremos que o dinheiro resolverá os nossos problemas e, entretanto, vendemos a nossa coerência por aquilo que brilha e logo se apaga. Esquecemos o fundamento sagrado da vida, ao mesmo tempo que os sinais do corpo e da alma nos pedem que olhemos dentro, para reconhecermos o pulsar da nossa essência. Hoje há uma nova dimensão das relações, à espreita, no seio de uma sociedade em rede, onde, embora sejamos capazes de arranjar companheiro a milhares de quilómetros, apostamos em novos programas mentais e caminhos demarcados da alma, de forma muitas vezes desesperada.
“Amar um ser humano é ajudá-lo a ser livre.” José Maria Doria
O que acontece quando paramos para observar? Quando paramos para observar, as relações de casal começam a ser o laboratório de autodescoberta por excelência. Começamos a compreender o grande espelho que, a partir do nosso interior, reflete o outro na convivência quotidiana, um tempo no qual observamos, de forma cada vez mais imediata, que, quando o obstáculo da relação aparece, já não saímos a correr, mas gerimos, sim, o confronto, de forma cada vez mais profunda e reveladora. Assim, as crises de casal são consideradas como aceleradores, que dinamitam as barreiras do coração, ao mesmo tempo que atravessam as defesas da própria sombra.
“O primeiro dever do amor é escutar.“ Paul Tillich
“Compromisso é permitir que o outro entre na nossa vida. É sonhar junto sem se sentir ameaçado, marcar um horário sem se sentir controlado, dividir o espaço sem se sentir invadido. Compromisso não é “falta” de liberdade. Compromisso é o “exercício” da liberdade de estar com alguém.” Pedro Bial
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